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A restauração do clássico Todd-AO “Oklahoma” |
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Escrito por: Paulo
Roberto P. Elias, Rio de Janeiro, Brazil |
Date:
18.07.2014 |
Foto
cortesia de Thomas Hauerslev (www.in70mm.com)
Depois de vários anos de esforço, foi finalmente liberada para exibição
digital em cinemas e masterização para mídia a cópia restaurada do filme
Oklahoma, adaptação do musical da Broadway e dirigido pelo notável Fred
Zinemann. O filme foi lançado em 1955 nos Estados Unidos em cinemas
adaptados para o processo Todd-AO e nos demais adaptados para a projeção em
CinemaScope.
O esforço de restauração é compreensível, visto que se trata do primeiro dos
dois únicos filmes Todd-AO rodados na cadência de 30 quadros por segundo. A
elevação da cadência, de 24 para 30 qps foi feita para eliminar o efeito de
“judder” na captura e projeção do filme.
Na década de 1950 a maior parte dos cinemas não estava preparada para a
projeção em 70 mm. Assim, Oklahoma foi rodado duas vezes: uma em Todd-AO 70
mm, com mixagem em 6 canais de áudio, e outra em CinemaScope 35 mm, com som
em 4 canais.
O segundo filme em Todd-AO a 60 qps foi "A Volta Ao Mundo Em 80 Dias", e filmado também duas vezes, a segunda em Todd-AO a 24 qps. Desta última cópia
foi feita a versão CinemaScope, com a mixagem do som em 4 canais. A versão
Todd-AO a 24 qps é atualmente considerada a única cópia sobrevivente deste
filme, e que foi aproveitada para a versão em DVD pela Warner Brothers.
No caso de Oklahoma a versão em CinemaScope ainda estava em boas condições,
mas o negativo de 65 mm Todd-AO apresentou descoramento e avarias diversas.
A perda de informação de cor do negativo é hoje creditada ao uso de filme
Kodak 5428 Eastmancolor.
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Na
captura abaixo, mostro a cena da chegada do trem à estação da cidade. A
placa com o nome Claremore sofre do flicker da versão 4:3 do primeiro DVD e
pior ainda com a perda de resolução da segunda versão. Notem que todos os
contornos exibem uma perda de resolução absurda, não se sabe se por excesso
de redução de ruído na transcrição ou falha na cópia usada.
Depois do filme restaurado, a FotoKem e a Fox prepararam uma versão em DCP,
com resolução de 4K e cadência de 30 qps idêntica ao original, já
apresentada em solo americano.
A versão em Blu-Ray neste momento está incluída em uma coletânea de outros
filmes feitos de obras musicais dos mesmos autores. Espera-se que até o fim
do ano ela saia em edição separada, com preço um pouco mais palatável.
Esta nova edição vem corrigir o desastre que foram as duas edições
anteriores em DVD: a primeira, em 4:3 letterbox, apresentava não só uma
perda de resolução significativa, mas principalmente um centelhamento
(“flicker”) na imagem, bastante visível em diversas cenas. Há algum tempo
atrás não havia um pronunciamento técnico do estúdio a este respeito.
Poderia ser algum problema na passagem do filme pela janela do telecine, mas
sabe-se agora que o problema está na cópia usada para a transcrição, Na
restauração atual, o flicker foi novamente detectado e corrigido.
No DVD da edição do aniversário de 50 anos, que contem as duas versões
filmadas, a versão em Todd-AO mostra uma perda de foco irritante, que
compromete o filme como um todo. O problema é que é justamente nesta versão
que o som adquire uma majestade que não se percebe na cópia de CinemaScope,
e sendo este um filme musical, a perda é importante para quem assiste.
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Histórico
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The
Todd-AO camera fitted with "bug-eye" lens.
Depois que o cinema em Hollywood se lançou aos projetos de tela larga, a
projeção em Cinerama foi a primeira etapa lógica, com o objetivo de se
alcançar o aumento do campo de visão da plateia. Porém, a câmera de Cinerama
se tornou um tormento para os cineastas e o que se viu foi a rejeição
subsequente do formato, em relativo curto espaço de tempo.
Por outro lado, os custos de exibição compeliram os estúdios concorrentes em
se empenhar para conseguir formatos alternativos. O CinemaScope foi a
primeira tentativa, mas o formato de tela é muito diferente. Assim, na sua
melhor alternativa para o Cinerama voltou-se ao uso do fotograma 65/70 mm,
abandonado no Grandeur da Fox. Com ele seria possível alargar a tela sem
necessidade do uso de três películas.
Coube ao estúdio M-G-M o retorno do uso das câmeras Mitchell 65, porém com a
introdução da lente Panatar, que corrigia engenhosamente a distorção
anamórfica das lentes CinemaScope. Posteriormente, o formato, chamado
inicialmente de Camera 65, levaria o nome de “Ultra Panavision”, e assim foi
usado em filmes anunciados como “Cinerama” ou “Super Cinerama” ou ainda
“Cinerama 70”. No Rio de Janeiro, o cinema Roxy foi montado com este formato.
O uso da lente Panatar fotografava o negativo com uma taxa de compressão
anamórfica de 1.25, podendo exibir uma relação de aspecto na tela de 2.75:1,
bem mais larga do que alta. O formato foi desenhado de modo a se obter
cópias para 70 mm plano e CinemaScope.
Em um segundo momento, o Todd-AO foi desenhado com o interesse em fotografia
sem compressão anamórfica em negativo de 65 mm. O emprego de lente esférica
notoriamente aumenta a qualidade da fotografia e sem introduzir distorções,
a não ser intencionalmente. Além disso, os produtores optaram pelo emprego
de lentes grande angular (do tipo “fish-eye”), com o objetivo de simular a
tela ultra curva do Cinerama. A lente usada, vista abaixo, foi desenvolvida
pela American Optical, a pedido de Michael Todd, e apelidada de “bug-eye”:
Ao invés de câmeras Mitchell, o Todd-AO foi desenvolvido com
câmeras
Fearless 65, originalmente desenhada para cambiar vários tipos de bitola de
negativos.
O Todd-AO padronizou também o som estereofônico de seis canais, gravados em
banda magnética na película de 70 mm, sendo cinco canais na tela e um
surround. A projeção original se dá em uma relação de aspecto de 2.20:1
plano, mas o fotograma seria adaptado para telas ultra curvas, com cópias
retificadas, corrigidas para a curvatura desejada.
Para permitir que a cadência de 30 qps pudesse ser viável nos cinemas, a
Philips desenvolveu na Holanda o projetor DP-70, a pedido dos criadores do
Todd-AO. Este projetor ganhou o único Oscar dedicado a um equipamento de
cinema e é, até hoje, a principal referência para o formato de 70 mm. Dois
desses projetores foram instalados no Cinema Vitória, quando as exibições em
70 mm começaram no Rio de Janeiro, em 1965.
Quando eu entrevistei o projetista
Orion Jardim de Faria alguns anos atrás
ele me relatou ter usado o Philips DP-70 como base para o design do
Incol
70/35. Os Incols eram capazes também de projetar 70 mm com a cadência de 30
qps. Orion recebeu da Fox uma cópia de um curta, que ele usou para
demonstração do formato. Dotados de lentes especialmente importadas para a
exibição em tela curva estes projetores foram instalados no Roxy, para a
abertura do Cinerama em 70 mm.
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Sobre o filme
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"Oklahoma!" é um trabalho para o teatro com tema paroquial, ambientado na roça
norte-americana. Mesmo como filme musical, não despertaria tanto interesse
assim. Na adaptação em filme, o principal objetivo seria introduzir o novo
Cinerama de uma só película, com a mesma qualidade do original. Tomadas com
a grande angular “bug-eye” acima mencionadas são extensamente usadas com
este propósito. Mas, o efeito ótico só é perceptível com a devida clareza na
tela ultra curva de proporções generosas.
O filme em si não chega a ser uma paródia ou crítica dos caipiras de
Oklahoma, mas quem está de fora, interessado em avaliar a forma totalmente
distorcida de falar daquela população, consegue aprender um bocado.
O projeto até não poderia ter alcançado qualquer fama fora os seus aspectos
técnicos, não fosse a presença do diretor Fred Zinemann, que esbanja méritos
na composição das sequências no enquadramento dos planos. Existem inclusive
aspectos um tanto ou quanto sombrios no desenvolvimento da trama, com
enfoque especial no personagem meio sinistro Jud Fry, protagonizado pelo
ator Rod Steiger.
Embora tenha sido projetado para a tela larga e grande, "Oklahoma!" pertence à
categoria de filmes que necessitam de resgate, o que finalmente foi feito.
Creio eu que, diante da destruição das salas tradicionais de cinema, nada
mais pode ser feito localmente para resgatar a apresentação deste tipo de
espetáculo. Fica, entretanto, como lembrança dos bons tempos onde o cinema
era encarado como tal, com a abertura das cortinas nas telas e todos os
outros aspectos que fizeram deste gênero de filme espetáculos inesquecíveis.
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28-07-24 |
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