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Pioneiros dos grandes espetáculos cinematográficos |
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Written by: Paulo Roberto P. Elias, Rio de Janeiro, Brazil |
Date:
04.06.2022 |
Image
source: Museum of Modern Art (MAM), Hernani Heffner
Historicamente, muito se ouviu falar de empreendedores no ramo de exibidores,
que povoaram as salas de cinema brasileiras de grandes espetáculos, entre eles o
notório Luiz Severiano Ribeiro, Francisco Serrador, e porque não dizer Paulo Sá
Pinto, que construiu a primeira e única (que eu saiba) sala de Cinerama de 3
películas do Brasil.
A história dessas pessoas é muito rica, mas em vários momentos da era posterior
depoimentos deixaram de ser prestados para a posteridade, infelizmente. Não
obstante, nada nos impede de tecer comentários ou fazer análises sobre o que
essas pessoas apresentaram ao público, durante décadas.
No Brasil, como na América, as salas de cinema sofreram a queda de público com a
presença cada vez maior da televisão, talvez aqui em proporção muito menor, mas
com a plateia diluída cada vez mais com o passar do tempo. Sofrimento similar,
se não pior, ocorreu quando as locadoras de vídeo começaram a alugar filmes para
se ver em casa.
Foi, talvez, por pura sorte de nós cinéfilos, que houve tempo suficiente para
que pudéssemos desfrutar dos modismos cinematográficos, como, por exemplo, a
febre do 70 mm e do Super Cinerama.
Olhando aquele momento em perspectiva, ainda assim eu avalio como arriscado o
investimento do empresário Paulo Barreto de Sá Pinto na construção de um cinema
exclusivo para a apresentação do Cinerama original de 3 películas. Embora com
considerável atraso, o fenômeno americano de 1952 chegou a São Paulo em meados
de 1959, mas, segundo os meus pais, que estiveram lá, inaugurado com grande
estilo.
No site sobre as salas de cinema de São Paulo, um detalhado artigo, escrito por
Antônio Ricardo Soriano anos atrás, dá uma ideia bastante precisa de como o Cine
Comodoro foi criado por Sá Pinto, sua capacidade técnica impecável e as
modificações posteriores no sistema de projeção.
O Cinerama de 3 películas encontrou obstáculos de toda ordem, e foi por isso que
os filmes feitos neste processo acabaram tendo duração limitada nas salas de
exibição dedicadas. O Comodoro fez diversas reprises de todos esses filmes,
exceto de A Conquista do Oeste, que acabou nunca sendo apresentado por lá.
Na década de 1960, o Comodoro foi modificado para o Super Cinerama, o mesmo que
tivemos no extinto Roxy, baseado no fotograma de 70 mm. Eis uma imagem, colhida
na Internet, que mostra este momento:
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No esplendor do 7OMM
A projeção em Super Cinerama
Large Format in Brazil / 70mm
In Rio
Falecimento de Orion
Jardim de Faria
in70mm.com dubbed into
foreign language
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Picture
from Antonio Ricardo Soriano's description on cinemasdesp.com.br. No known
credit.
O filme de abertura do Super Cinerama no Comodoro, Uma Batalha no Inferno,
originalmente fotografado em Ultra Panavision 70, foi o mesmo que inaugurou o
Roxy um ano antes. Para a modificação da aparelhagem, os 3 projetores Century,
construídos para equipar o Cinerama original, foram substituídos por 2
projetores Cinemeccanica Victoria 10. Enquanto que no Roxy, dois projetores
Incol 70/35, construídos por Orion Jardim de Faria, haviam sido instalados, e
somente as lentes eram importadas, de modo a adequar a tela para qualquer
formato 70 mm destinado ao Super Cinerama. Imagino que algo semelhante tenha
acontecido no Comodoro.
A substituição por projetores 70 mm com cópias retificadas foi imensamente
vantajosa, porque permitiu o aumento do número de filmes exibidos no processo
Cinerama. Um número enorme de produções de cinema foram rodadas em 35 mm e
depois ampliadas para a bitola de 70 mm, sem que a plateia se desse conta da
mudança. Isso foi possível porque o fotograma de 35mm era transferido em um
equipamento capaz de assegurar a manutenção da qualidade fotográfica da captura.
Além disso, o filme 70 mm é formatado com o fotograma em uma altura de 5
perfurações, ou seja, cada fotograma que passa na janela do obturador corre mais
rápido nas cabeças de leitura da banda magnética do projetor, garantindo assim
uma significativa diferença de fidelidade na reprodução do áudio.
O Metro-Boavista e o processo Dimensão 150
Quando o Metro-Passeio foi demolido imaginava-se que mais uma importante sala de
cinema havia sido perdida. Mas, em seu lugar foi erguido um prédio, com os
auspícios do antigo Banco Boavista, em cujo andar térreo foi erguido o
Metro-Boavista, o cinema mais moderno que eu vi até hoje!
O auditório do Metro-Boavista foi projetado com uma sofisticação invejável.
Nenhuma luminária ficava à vista da plateia, toda a iluminação era indireta. Ao
início de cada sessão a luz era apagada lentamente, ao mesmo tempo em que as
cortinas da tela se abriam. Da mesma forma, o ar condicionado foi montado sem o
público tomar conhecimento de suas tubulações.
Segundo o Ivo Raposo, o Metro-Boavista fora equipado com 2 projetores
Cinemeccanica Victoria 8, para a projeção em Dimensão 150 em uma tela curva,
semelhante à do Super Cinerama. O formato D-150 foi projetado para filmagem e
exibição, mas apenas poucos filmes foram rodados neste processo. A projeção,
entretanto, era feita com uma cópia retificada de qualquer filme 70 mm, ou 35 mm
ampliado para 70 mm.
No início da projeção, uma imagem fixa anunciava a apresentação do formato:
O primeiro filme exibido, As Sandálias do Pescador, foi rodado em Panavision 35
mm e modificado para o D-150. O filme dura quase 3 horas, e foi apresentado com
todo o cerimonial do momento: músicas de abertura, intervalo e e de saída com as
cortinas fechadas. A trilha sonora composta pelo notável Alex North se tornou
imponente nesta apresentação.
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O formato Dimensão 150
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O D-150 foi proposto como uma alternativa ao Todd-AO, este último previsto para
ser exibido preferencialmente em tela 70 mm curva, para substituir o Cinerama de
3 películas.
A tela D-150 do Metro-Boavista foi com construída com base, se não me engano, em
um projeto da Rank Organisation, mas infelizmente eu perdi toda a documentação a
este respeito, portanto posso estar equivocado. O enquadramento de cada formato
era adaptado tanto na moldura quanto na extensão da cortina. Assim, as dimensões
da moldura deixavam o espaço da tela nas dimensões exatas dos respectivos
fotogramas, algo inédito em salas de cinema, que eu, pelo menos, nunca vi igual.
É mais uma vez lamentável que este magnífico cinema fosse desativado mais ou
menos no fim da década de 1980, e nada foi feito até agora, até onde eu sei,
para recuperar o espaço:
Ambos Comodoro e Metro-Boavista encerraram as suas atividades por volta de 1997.
Em plena virada do século, o que sobrou do Comodoro pegou fogo, apagando
completamente a memória daquele cinema.
A verdade sobre a dura realidade que os cinéfilos enfrentam até hoje é que a
recuperação de cinemas que ainda seria possível esbarra em outros tipos de
dificuldade. Creio que é por isso que vários cinemas no exterior fizeram um
esforço para que nem projetores de 70 mm nem as telas fossem retirados, o que
permite hoje que apresentações de cópias modernas em 70 mm possam ser exibidas.
Notem que projetores de película duram uma eternidade, se sem conservados, e o
resto, telas, equipamentos de som, etc., são perfeitamente substituíveis para o
formato que o exibidor quiser. Resta saber se, no nosso caso, isso iria
acontecer algum dia, nem que fosse para o resgate da nostalgia que o cinema de
outrora nos mostrou.
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Motion pictures photographed in Dimension 150
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28-07-24 |
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