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Palácios e Poeiras |
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Written by: Paulo Roberto P. Elias, Rio de Janeiro, Brazil |
Date:
08.06.2023 |
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Metro-Boavista, "The Great Caruso" + "Kelly's Heroes" Feb 19th 1971
• Rio, "Mayerling" Jan 5th 1970
• Metro-Boavista, "Kelly's Heroes" Dec 24th 1970
• Roxy, "Oliver" March 10th 1969
• Bruni Flamengo + Rio, "Cromwell" Dec 21st 1970
• Roxy, "The Comedians" Feb 10th 1969
Anos
atrás, eu resolvi fazer uma pesquisa sobre a parte técnica das cabines de
cinema no Rio de Janeiro, e
para o meu espanto, esta é mais uma dos tipos de memória quase inexistentes,
só mesmo conversando com pessoas que viveram os cinemas e as cabines,
profissionalmente ou não.
Na época, me dirigi ao escritório do grupo Severiano Ribeiro, localizado
no Edifício Odeon, e a secretária me informa que lá ela não tinha nenhuma
imagem, registro ou especificações técnicas das cabines dos cinemas. Uau...
Em busca de literatura eu esbarrei naquele que eu acho o melhor livro
sobre os cinemas do Rio de Janeiro, que é o Palácios e Poeiras: 100 anos
de cinemas no Rio de Janeiro, escrito por Alice Gonzaga (Cinédia) e com
pesquisa feita por Hernani Heffner, responsável pela Cinemateca do Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro.
• Go to Large Format in Brazil, part
I: 70mm in Rio
• Go to Large Format in Brazil, part
II: The Incol 70/35 projector
• Go to 70mm Rundown in Rio Revised
• Go to 70mm Films shown in
Brazil
• Go to Mr. Orion Jardim de Faria - A
visit to a Brazilian 70mm film Pioneer
• Go to The Incol
70-35 projector
• Go to The Passing of Orion
Jardim de Faria
• Go to Falecimento de Orion
Jardim de Faria
A Alice Gonzaga, o Hernani Heffner, e tantos outros que conheci no meu
trajeto de pesquisa, como o Antonio Ricardo Soriano, que fundou o melhor
site para historiar os cinemas de São Paulo, o Rafael de Luna, Professor do
Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense, e o Ivo
Raposo, que construiu a réplica do Metro-Tijuca em Conservatória, todos eles,
sem exceção, sabem muito mais sobre cinema e salas de exibição do que eu. E
foi com eles que eu aprendi muito sobre o assunto!
Histórico
A minha geração começou a ir aos cinemas muito cedo. No Rio de Janeiro,
a década de 1950 foi gloriosa neste aspecto. E o bairro da Tijuca, por sorte,
com a maior concentração de salas por bairros. A minha mãe, fã incondicional
de cinema, logo cedo me levava ao Metro-Tijuca, onde passei os melhores
momentos da minha vida. Eu me lembro de que quando "Lili" (com Leslie Caron),
"Pequeno Polegar" (com Russ Tamblyn) e outros filmes destinados ao público
infantil, eram reprisados, ela me levava lá de novo. O meu tio Alcides,
marido da irmã da mamãe, me levava aos fabulosos Festivais Tom e Jerry, nos
primeiros domingos de cada mês, momentos onde eu vi a criançada toda
explodir em gargalhadas e aplausos assistindo aquelas obras-primas da
animação.
O Metro-Tijuca foi importante na minha vida e na do Ivo Raposo também,
que heroicamente resgatou aparelhagens, poltronas e lustres, para edificar
uma réplica em pequena escala, apelidada de “Centímetro”. Lá, estudantes,
cinéfilos ou fãs poderão ver resgatados itens importantes do que foi um dos
melhores cinemas do Rio de Janeiro.
Quando adolescente, a minha rotina era sempre a mesma: tomar o bonde e
saltar na Praça Saens Peña, onde estavam a maior parte dos cinemas, ou então,
ir na direção oposta e entrar no Madrid, cinema cuja perda me deixou
traumatizado!
Na década de 1960, eu fiz um curso básico de cinema, organizado pelo
Cineclube Nelson Pompeia da Pontifícia Universidade Católica, e ministrado
por jornalistas na maioria das aulas, no auditório do Colégio Sacré-Coeur de
Marie, em Copacabana. Este foi o último curso que o meu pai me deu, antes de
falecer, e foi lá que eu aprendi muita coisa sobre história, técnica,
crítica e outros assuntos relevantes.
Este curso teve também uma enorme influência sobre mim, quando o chamado
“cinema de arte” se expandiu na cidade. Eu frequentei muito as cinematecas
do Museu de Arte Moderna e do Museu da Imagem e do Som, esta última depois
extinta.
Como estudante e organizador de um cineclube eu peguei emprestado
dezenas de filmes em 16mm, sem falar nos aluguéis de longas, que nós
pagávamos com as nossas parcas economias de estudantes. Toda semana, lá ia
eu de ônibus carregando latas e caixas de filmes, todas pesadas. Também,
pelo cineclube, eu frequentei muito o Conselho Britânico, que tinha uma
vasta filmoteca.
Para pegar filmes no Consulado Americano o usuário tinha que aprender a
projetar os filmes em cursos dados por eles, mas no meu caso eu provei a
eles que projetava filmes desde tenra idade. Os primeiros filmes em 16mm que eu projetei eram mudos e anos depois sonoros, na casa de um vizinho
abastado, que alugava filmes e não tinha ninguém para passar os filmes para
a família assistir.
Fora do 16mm, toda vez que o meu pai me mandava passar férias em Cajuru,
sua cidade natal do interior de São Paulo, eu aproveitava para conhecer o
que fosse possível sobre projeção em 35mm, na cabine do Cine Teatro Yara,
que era do irmão do meu pai, que a gente chamava de “Tio Gino”.
O cinema do meu tio tinha um operador com o nome de Paulo, meu xará,
tratado pelos locais com o apelido maldoso e sarcástico de Paulo Farrinha,
porque alguém o teria flagrado limpando o nariz com os dedos. O Paulo me
chamava de xará, e sem o meu tio saber, me levava na cabine e me ensinou não
só a acender a lanterna de arco voltaico e projetar, como emendar trailers e
jornais na coladeira.
A aparelhagem consistia de um par de projetores RCA. Na entrada do
cinema o meu tio havia instalado uma placa de metal com os dizeres tipo
“Equipo Sonoro RCA”. Duas lentes
CinemaScope, do tipo
Panatar variável, eram
dotadas de um knob rotativo que permitia a projeção de película plana e a
scope, apenas girando nas posições desejadas.
Esta minha convivência com os operadores na cabine do meu tio foi me foi
instrutiva, mas aquele meu tio não me permitiria ir lá, alegando perigo. Uma
vez, um dos operadores ficou doente, e eu passei o filme no lugar dele. O
meu tio soube e saiu cuspindo marimbondo na minha direção.
Eu tenho certeza de que o meu tio Gino nunca entendeu a minha paixão por
cinema, mas o nosso bom Paulo sim. Ele ia todo dia buscar as latas de filmes
na estação do trem, e às vezes me chamava para testar alguma coisa no
período da tarde (as sessões eram sempre de noite), e quando aparecia um
desenho em uma das latas a gente projetava para ver o que era. Eu vi cópias
novinhas de curtas das animações da Warner, com colorido e som espetaculares!
Grandes espetáculos, grandes memórias
Por definição, o cinema classificado como “Poeira” é aquele com
instalações mais modestas, como, por exemplo, assentos de madeira em lugar
das poltronas, ou ausência de tapetes ou outro luxo qualquer nas instalações
dos cinemas.
Na Praça Saens Peña existiam dois cinemas que se encaixam nesta
categoria: o Tijuca, apelidado de “Tijuquinha”, e o Santo Afonso, que
pertencia aos padres da Igreja Santo Afonso, que era adjacente. O Ivo Raposo
começou a projetar lá e me conta que havia censura dos padres, mandando
cortar cenas, tal como no filme "Cinema Paradiso".
O Tijuquinha foi desativado e o espaço virou uma das Lojas Americanas.
Mais tarde, o Eskye-Tijuca iria ser reformado e o nome trocado para Cine
Tijuca. O Santo Afonso deu lugar a um enorme supermercado. Vejam que havia
um outro cinema de padres, chamado Roma, na Rua Mariz e Barros, mas este,
embora pequeno, não era “poeira”.
O espetáculo de cinema construído propositalmente sempre constou de
exibição com cortinas fechadas antes da projeção, gongo mecânico, quando era
o caso, ou iluminação colorida na borda da tela. Muitos cinemas tinham
cortina dupla, uma delas, mais próxima da tela, abria somente até o
enquadramento do filme plano, e depois abria completamente se o filme fosse CinemaScope.
A formatação de espetáculo, com abertura, intervalo e música de saída,
foi concebido para fazer com que a sala de cinema emulasse o ambiente das
peças teatrais, só que em 2 atos somente.
Para mim, um dos itens mais importantes das projeções assim formatadas
foi o da reprodução do som estereofônico. Os anúncios do Severiano Ribeiro
mostravam um logo com os dizeres “6 faixas de som estereofônico”, coisa que
nunca existiu nas películas de 35mm. O som do CinemaScope sempre foi de 4 e
não de 6 faixas, como eles anunciavam, mas só que, na prática, ninguém se
importava com isso.
Na Tijuca desta época, o melhor cinema com som estereofônico foi o
Madrid, muito bem construído, ocultando todas as caixas surround. A acústica
do Madrid era exemplar. O Metro-Tijuca tinha caixas laterais, todas visíveis,
mas eu nunca assisti filmes lá com som estereofônico. Essas caixas
reproduziam música antes das sessões apenas. O Ivo me mostrou os projetores
de lá, Simplex E-7 e XL, com cabeças magnéticas no topo, porque eles nunca
usaram eu não sei. O Metro-Tijuca original também tinha equipamento
Perspecta, mas eu também nunca vi a reprodução deste tipo por lá.
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visit to a Brazilian 70mm film Pioneer
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Jardim de Faria
Falecimento de Orion Jardim de
Faria
A Nostalgic View of 70mm in New
York City - 1950-1970
in70mm.com's Library
Presented on the big screen in 7OMM
Peripheral Vision, Scopes,
Dimensions and Panoramas
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Roxy, "The Battle for Anzio" Dec 2nd 1968
• Roxy, "Samson and Delilah" Oct 7th 1971
• Roxy, "Guess who's Coming to Dinner" Dec 23rd 1968
• Astor, "Boots Hill" opening Dec 22nd 1970
• Roxy, "África Eterna" Jan 25th 1971
O
filme de 70 mm, com abertura e intervalo
Eu tive e a sorte e o privilégio de conhecer o
Orion Jardim de Faria, sobre
quem já escrevi neste espaço. Logo no primeiro encontro com ele, eu me
identifiquei completamente com o que ele me contava, e não me cansei de
ouvir grande parte daquela experiência incrível sobre os
projetores de 70mm. O Orion conhecia profundamente áudio e caixas acústicas, dois assuntos
que sempre me deixaram cativo. Para mim foi gratificante conversar com ele
sobre isso, e aprender que ele construiu os
Incol 70/35 com cabeças
magnéticas para 4 (35mm) e 6 canais (70mm) que ele havia encomendado na
Itália. Em cinemas como, por exemplo, o Roxy, onde o Cinerama 70mm tinha
sido instalado, o resultado sonoro era simplesmente espetacular. Quando o
Madrid instalou os Incol o som estereofônico que já era ótimo (Simplex XL),
ficou ainda melhor. Se tivessem construído o Cinerama 70 como previsto,
teria sido o melhor Cinerama da cidade, sem dúvida alguma.
O 70mm marcou em mim uma época inesquecível, tanto o da projeção plana,
quanto do Cinerama 70 e da projeção
em Dimensão 150,
com telas curvas. Os nossos melhores cinemas seguiam o roteiros dos chamados
“roadshows”, com cortinas se fechando para a reprodução da abertura, e
depois novamente se fechando no intervalo do filme.
Eu tenho visto na Internet dezenas de projetos de recuperação de salas
de cinema, algumas inclusive aqui no país. Filmes recentes em 70mm tem sido
projetados nas salas lá de fora, as daqui eu acho que não.
Infelizmente, eu não sou otimista que o 70mm volte por aqui, mas nunca
se sabe. O desmonte das salas, até onde eu sei, provocou a remoção e o
sucateamento de todos os projetores. Anos atrás, o Charles, do Projecine, me
mandou fotos de dois Victoria 8 já podres, que a empresa dele restaurou para
depois vender. Hoje, acho que ele nem conseguiria passar esses projetores
adiante. Os Victoria que eles recuperaram tiveram os debitadores de 70mm retirados, porque nem o Charles nem os sócios acreditam na ressurreição do
formato!
Sem a presença desses cinemas com capacidade para projetar filmes em 70mm, as gerações mais jovens nunca irão saber o que é um espetáculo de
cinema, a sua grandiosidade e mística. Tal empecilho é, no meu entender, um
crime cultural sem precedentes.
Os antigos exibidores construíram cinemas, inclusive os Palácios,
embaixo de um prédio comercial, por motivos meramente financeiros. Teria
sido teoricamente possível resgatar as salas de exibição e/ou preservar o
patrimônio para fins similares. Aqui no Rio, a loja Riachuelo reformou
totalmente o cinema Palácio e o transformou em teatro. O Vitória também foi
restaurado, desta vez pela Livraria Cultura, mas infelizmente o espaço
interno do auditório não foi preservado, só as paredes e o antigo, pré
CinemaScope, proscênio. Com o fechamento da Livraria, ninguém mais pode
entrar lá dentro e ver como era o cinema.
É por essas e outras que otimista eu não sou. Qualquer projeto de
resgate de cinemas teria que ser um empreendimento de enormes proporções e
com a participação de muita gente interessada. Pode ser que isso aconteça
algum dia, espero que sim, mas por enquanto eu acho que não vou viver o
suficiente para ver isso acontecer.
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• Go to
Palácios e Poeiras
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